O serviço principal do estúdio criativo A Pajarita é estacionário de casamento.
No entanto, como qualquer artista, também me interesso por outros materiais e meios para expressar a minha criatividade: todos os anos aceito um punhado de projectos florais.
E como os adoro! Estes projectos fazem todo o sentido quando são criados no seguimento do estacionário que já desenhei. Criar um prolongamento desta linguagem é empolgante, dando seguimento ao conceito, às cores, às texturas e à história que estamos a contar, agora com elementos mais esculturais e naturais.
Gosto de ter tempo para os pensar, para encetar um diálogo entre diferentes peças, combinando, por vezes, o mais improvável, sempre de uma forma simples e sustentável.
E no meu processo de trabalho, tenho uma regra básica, os projectos aceites nunca podem coincidir. Não tenho a ambição de fazer dois projectos florais no mesmo dia, nem em dias seguidos. O tempo não pode ser escasso nem corrido, afinal o vosso dia só acontece uma única vez e devo-vos a dedicação máxima.
Para mim, cada elemento deve ser feito de significados, seja a flor de lapela, que reflecte a personalidade do noivo, ou o bouquet, que é a expressão do sonho da noiva.
Muitos dos espaços têm decoração floral incluída. Neste contexto, o meu papel no fornecimento de serviços florais restringe-se à decoração da igreja e aos detalhes pessoais: os bouquets, os toucados ou coroas, os cestinhos, os porta-alianças, as pulseiras e as flores de lapela.
Tenho o meu próprio processo de trabalho e, por isso, é imprescindível explicá-lo aos casais que me pedem para florir os seus dias mais bonitos.
Uma das minha preocupações é fazer todos os elementos florais o mais próximo possível do momento de entrega. Quanto mais frescas as flores estiverem, mais tempo vão durar. Nada deve ser apenas para aquele dia, gosto de pensar que terão uma segunda vida, alegrando um cantinho na vossa casa ou na casa dos vossos convidados. Como faço poucos projectos, tenho a possibilidade de optar por projectos que me aportem mais liberdade criativa, deixando de lado projecto com o qual não me identifico.
Como e quando?
As flores chegam na véspera da data, frescas e radiantes, em pleno esplendor. De imediato, são colocadas em água e limpos os espinhos e as folhas que não serão necessárias.
Dependendo dos elementos a realizar e do volume de trabalho que tenho pela frente, calculo o momento ideal para começar a criar.
Marcamos antecipadamente uma hora para a entrega, sei que alguém me esperará abrindo-me a a porta e indicando os copos, jarras ou mesmo frascos com dois dedos de água fresca que pedi para estarem preparados para a minha chegada.
Mais do que manter as flores hidratadas, servem para evitar a quebra ou marca de pétalas, essas marcas, para mim, feias e acastanhadas. Cada flor foi escolhida por estar perfeita, cada pétala no seu esplendor, nada valeria a pena se pousássemos os ramo sobre o seu próprio peso.
Tenho um estilo generoso, o meu favorito nos ramos de noiva, cheio de flores e com pouca folhagem, só mesmo a indispensável, que faça – e quando faça – sentido.
Todos os detalhes florais com flores frescas são entregues em mão no dia do casamento, e eu estou sempre presente. Não prescindo de cumprir o meu papel até ao fim, gosto de rectificar se está tudo perfeito na acto da entrega. E, claro, não podia perder a primeira reacção, a primeira troca de olhares com a noiva ao receber o bouquet com que sonhou.
Tenho o mesmo cuidado com as flores de lapela, e disponibilizo-me sempre para as colocar, quando as entrego. Assim tenho a certeza que não rodaram ao sabor da festa e se manterão sobre o coração palpitante do noivo, do seu pai, padrinho ou amigo.
Se os casacos não estiverem disponíveis, demonstro sempre como devem ser colocadas as flores de lapela e certifico-me que ficam colocadas em água, à espera do seu momento.
Os restantes elementos que pela sua natureza estrutural não podem ser colocados em água como o porta-alianças, as pulseiras, as coroas de flores ou os tocados, devem permanecer à sombra, num local fresco e resguardado de mexidas e encontrões.
No caso da decoração floral da cerimónia, seja ela religiosa ou civil, os arranjos são todos preparados e iniciados no nosso atelier e transportados e finalizados no local, de forma a mantermos a limpeza e organização locais, mas não só – esta forma de trabalhar permite-nos afinar, da melhor forma, todas as peças que criámos em estúdio, quando colocadas no seu sítio final. Acrescentamos ou removemos volume, completamos o que possa faltar e retiramos o que possa estar a mais, para que no fim, quando olhamos, tudo esteja em perfeita harmonia!
E como o trabalho bonito não merece ser abandonado, todos os arranjos e flores que os noivos não ofereçam ao espaço, como as flores usadas para marcar as filas dos bancos, são distribuídas à saída da igreja pelos convidados enquanto todos se cumprimentam.
O mesmo faço quando decoramos a festa. Para evitar stress adicional para o espaço, naquelas horas contadas de montagem, com entradas e saídas de pessoas, cargas e descargas de material e um sem número de solicitações à equipa proprietária, levamos o máximo do trabalho feito no nosso atelier e finalizo apenas no local.
Há sempre uma flor que gostamos que esteja colocada de forma mais longa ou um ramo que descanse sobre a mesa, é imprescindível finalizarmos estes detalhes no próprio local. E tal como mencionámos acima, há sempre um ajuste entre o que idealizámos no estúdio e a posição de destaque que as flores têm na posição final que ocupam, já rodeadas dos outros elementos que as acompanham e no ambiente final do espaço: estamos preparados para isso e a magia acontece mesmo no último toque.
No final da festa, gosto de recolher as flores usadas na decoração e oferecer a todas as convidadas um pequeno ramo, à despedida, para que a festa, com o seu perfume e beleza, continue.
Quando trabalhamos com flores desidratadas em vez de flores frescas, para além da entrega em mão, podemos também enviá-las por transportadora – esta decisão irá depender da especificidade do projecto e da sua estabilidade. Se forem detalhes pequenos como um toucado ou flor de lapela, os riscos de um envio são mínimos e o nosso cuidado no embalamento é extremo, mas se forem arranjos mais delicados e irregulares na sua forma, continuo a preferir entregar em mão para garantir que chegam com a sua delicadeza e construção intactas, tal como foram imaginados e criados.
Preservar o que resiste ao grande dia
Depois da festa, as flores que se mantém em perfeito estado de conservação são muitas, demasiadas até para uma única casa! Só quem monta e desmonta decorações de casamento sabe o quanto nos parte o coração a ideia de as desperdiçar, por falta de quem as possa recolher.
A solução e conselho que damos com mais frequência é distribuí-las pelos convidados, dando-lhes uma segunda função e vida depois de embelezarem o vosso dia. Levem-nas para casa, troquem a água com frequência (e aparem os pés, sempre na diagonal), e terão flores bonitas durante uma ou duas semanas.
Algumas das espécies são facilmente desidratadas, como as rosas Santa Teresinha, o vivaz, o eucalipto (tudo o que não seja “carnudo”, como ranúculos, túlipas, etc.). Basta que coloquem as flores com o caule para cima numa zona seca, arejada e com pouca luz, como uma garagem, e deixem que sequem naturalmente. As cores irão alterar-se naturalmente, mas as memórias e a beleza natural da sua forma e selecção permanecerão.
Despeço-me deixando um conselho: não deixem nada ao acaso, mostrem as vossas escolhas ao fornecedor a quem confiaram a criação dos vossos elementos florais e estabeleçam um diálogo qualitativo. Conversem sobre o que gostam, espécies, formatos, estilos, tamanhos e alinhem os vossos desejos com o conhecimento técnico de um bom profissional.
As flores devem seguir a linha que traçaram para o vosso dia, e o conselho profissional guiará as escolhas certas. Quem trabalha com flores saberá as espécies e formatos certos, as dimensões e os estilos que fazem o par perfeito com o vestido, a escala certa das flores de lapela para determinado estilo de casaco, as espécies que resistirão melhor sem água para o toucado e a pulseira, e todos os pequenos grandes detalhes, que parecendo invisíveis ou menos importantes, somam para o resultado final mágico: o vosso dia mais bonito!
Um texto escrito com a imprescindível ajuda de Susana Esteves Pinto e ilustrado com as bonitas fotos do casamento de Joana & Duarte assinadas pelos Arte Magna.
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