A HISTÓRIA DE UM ESTACIONÁRIO DE CASAMENTO
Hoje falo-vos sobre um estacionário de casamento que criei no ano passado.
Como sabem, só publico o trabalho que desenvolvi para cada casal após a celebração do seu dia tão especial. Acredito que assim asseguro a exclusividade que dedico a cada projecto e que tanto quero para os meus noivos.
De algum do meu trabalho vão me chegando fotografias e vídeos bonitos, que orgulhosamente gosto de publicar, enquanto outros ficam na gaveta, à espera do seu momento e registo.
Esta semana, fui buscar este estacionário de casamento para o fotografar e contar a sua história, que é bem curiosa mas frequente no meu trabalho.
Sandra e Ravi, são um simpático casal que vive em Londres. Ela é inglesa, descendente de pais portugueses, e Ravi é espanhol, com raízes sólidas em Valência, cidade que me acolheu durante um ano e meio enquanto fiz o meu mestrado em Produção Artística.
A nossa história comum aconteceu de forma acidental e nada relacionada com estacionário de casamento!
Sandra e Ravi têm uma das minhas gravuras na parede da sua sala, em Londres, oferta de um amigo numa ocasião especial.
Na sequência de uma remodelação que estavam a fazer, decidiram comprar uma companheira para esta solitária obra de arte e procuraram o meu contacto na internet, chegando até mim (na verdade, até às duas partes de mim!).
Ligaram-me e, na nossa longa conversa, a dúvida veio ao de cima: afinal A PAJARITA tem alguma relação com a Alexandra Barbosa? O nome era o mesmo, as referências eram constantes nos meus perfis das redes sociais, relação teria de haver, pensaram eles, e muito bem.
Expliquei-lhes que era uma outra parte de mim, e um “hummm” ouviu-se.
Estavam a pensar casar e a fazê-lo em Portugal. Nas férias daquele ano percorreram a costa portuguesa e encontraram um lugar que lhes ficou registado na memória por ser invulgar – a Capela do Senhor da Pedra, em Gaia. A maré estava alta e as ondas quebravam contra os seus muros.
Nesta imagem cheia de força, reinava um amor comum, a água. Eles adoravam água, seja de rios, lagos ou mares, e nos seus destinos de férias, a água sempre esteve presente, nas suas diferentes forças e expressões. Era claro que este elemento ia ter um lugar bem especial quando fossem casar.
O assunto ficou por aqui e a conversa retomou o tema inicial, a aquisição de uma nova gravura. Trocámos uns emails e a gravura foi escolhida e enviada para o seu destino, tendo sido recebida com todo o amor que sonho quando as deixo partir.
Passados alguns meses, recebo uma nova chamada de Sandra e Ravi, animados, disseram-me que iam casar e queriam que fizesse os convites e os restantes papéis. Não podia estar mais feliz e lembrei-me de imediato da nossa conversa. Falamos sobre as expectativas que tinham e o que estavam a planear.
Vinham casar a Portugal, o cenário de fundo seria a Capela que nunca lhe tinha saído da memória, num dia de setembro aproveitando que estavam de férias e iam trazer a família para passar cá uns dias. A hora seria em função à maré, tinha de estar a subir, depois de uma pesquisa, marcamos para às 14h. O tema era óbvio, pelo menos para mim, a água. Queriam brindar na praia com um Moët & Chandon – espumante favorito do noivo – e saborear uma fatia de bolo de uma pastelaria que conheceram quando vieram correr as costa portuguesa – a Noiva nunca se esqueceu daquele bolo, o nome da pastelaria tinha se apagado da memória mas sabia como chegar lá. Seria algo simples que terminasse em banhos, isso era uma certeza. Para finalizar o dia, depois de uma tarde bem passada na praia, acharam que ia saber mesmo bem um jantar. O dia estava alinhavado.
Tendo o elemento que os unia, o plafond que disponibilizavam e a quantidade de convites que pretendiam, cerca de 20 convites, pus mãos à obra e apresentei-lhes uma proposta que me parecia representar-lhe bem, de uma simplicidade divertida. Um cartão com texto de tom informal e divertido e um envelope pintado à mão em aguarela, onde o azul fosse apropriado pelo manto de água. Da proposta passei à execução de 21 unidades, 20 para os convidados e 1 para eles guardarem para recordação.
No seguimento da estética, passamos para as ementas, aos marcadores de lugar e aos cartões de agradecimento em formato marcador de livro, outra característica deste casal – o gosto pela leitura.
Quando o estacionário parecia ter terminado, surgiu um novo desafio, a lembrança. Inicialmente não se tinha definido lembrança, normalmente não gostavam de as receber mas, por sugestão da mãe da Noiva, repensaram e mudaram de ideias. Iam oferecer mas queriam algo que fosse mais do que um brinde, algo que tivesse significado e valor, sugeriram-me fazer um desenho da Capela, ao qual eu respondi com uma proposta de desenho combinado com aguarela envolto num papel feito à mão em azul. Uma lembrança por casal para que aquela aventura pudesse ser recordada em cada casa com carinho.
Despeço-me feliz por fazer parte de momentos marcantes e de captar a essência de quem no meu trabalho confia.
Este texto, como habitualmente, foi escrito com a ajuda da imprescindível Susana Esteves Pinto .