Sinestesia, de acordo com o dicionário, é “a produção de duas ou mais sensações sob a influência de uma só impressão”. Estas sensações podem ser antagónicas ou apenas distintas. Um exemplo muito claro é quando um cheiro nos evoca uma memória, ou um som gera uma imagem na nossa cabeça – algo evoca outra coisa, de natureza distinta.
Sinestesia é, então, o mote para a nossa conversa de hoje: é a primeira palavra que me ocorre, quando penso na história do estacionário de casamento da Andreia e Frederico.
Antes de nos conhecermos pessoalmente, partilharam comigo que conheciam em detalhe o meu processo de trabalho – o que fazia e como o fazia e, por isso mesmo, estávamos a ter estas belas conversas.
O conceito
Nas nossas conversas, este casal muito simpático, bem informado e com um bom gosto inegável, evidenciou o seu prazer pela natureza, tornando-se evidente, pelas suas referências claras, que seria o caminho a seguir.
Quando nos sentámos frente a frente, percebi logo que o seu gosto recaía sobre o papel manual e que estavam abertos a sugestões. Neste processo, proporcionaram-me a liberdade de criar uma imagem que os espelhasse, leve e fresca, inspirada na natureza.
O estacionário de casamento que criei para a Andreia e Frederico remete-me para um passeio primaveril por campos e prados, sentindo uma brisa suave no rosto. Sabe a liberdade, sente-se a fluidez do passar do tempo e ouve-se a vegetação sussurrar com a brisa.
É um estacionário que desperta os sentidos.
O convite de casamento
Exaltar os sentidos é uma intenção (e ação) muito presente no meu trabalho.
Também neste convite de casamento parece ser a palavra de ordem, que ganha corpo através da combinação de papéis, com o envelope em papel fine art e o convite e cartão de detalhes em papel manual 100% algodão.
No anúncio do dia mais bonito da Andreia e Frederico, o tacto não ficará indiferente a estas texturas e densidades distintas.
A imagem que criei é fluida, como uma paisagem campestre que cede e ondula ao sabor do vento, fresca e cheia de movimento. A caligrafia transmite e eleva a personalidade e o espírito leve dos noivos.
Fiel ao que define um estacionário de casamento, ou seja, um conjunto de materiais gráficos que obedece à mesma linha gráfica coesa, os convites criados para os padrinhos mantêm o espírito, cores e conceito.
As cartas
Este casal, num gesto muito doce e emocional, preparou um conjunto de cartas destinadas às pessoas cuja importância é primordial na sua vida.
Para estes objetos memoráveis e tão relevantes, escolhi papel manual, com uma certa espessura que lhe deu um corpo físico, individual e pessoal, e folha de ouro a rematar o rebordo. Com esta materialização rica, demos casa às de palavras generosamente partilhadas, permitindo assim a sua revisitação.
Que belo gesto de amor e gratidão para quem sempre esteve ao nosso lado, não acham?
O missal
A abordagem ao missal, que guia e orienta os presentes pela cerimónia, também seguiu o conceito natural e leve que determinámos para o estacionário de casamento.
Mantivemos as cores claras e primaveris, com muitas aguarelas, e o remate da encadernação foi feito com uma fita leve de um tom de rosa translúcido, como as nuvens ao nascer do dia. Aqui, as referências à natureza centram-se nas suas personagens principais – o casal.
A festa
Mantendo a consistência do estacionário de casamento, através das cores e conceito, criei as restantes peças para o copo-d’água. Esta festa, glamorosa e elegante, pedia um conjunto alargado de peças em papel, complementadas pela decoração floral e o design das mesas e do ambiente.
Neste contexto, criei o seating plan, os marcadores de mesa, as ementas e os marcadores de lugar, sempre com a mesma linguagem que estipulámos a partir do convite de casamento: um conceito leve, natural e primaveril, que apela aos sentidos e os agita num frémito, como a brisa que passa pelo campo.
Terminado e entregue, este é um trabalho que, a cada vez que o revejo, me inspira e faz pensar nos primeiros dias de primavera e nos passeios frescos pelo campo que desponta.
Despeço-me com as palavras dos Noivos, agradecendo todo o seu carinho:
“a pajarita foi uma escolha perfeita!
Quando encontramos a Alexandra estávamos no início da jornada e não estava praticamente nada definido. No entanto, já sabíamos que queríamos que o estacionário fosse um elemento de ligação e tivesse o merecido destaque.
Uma vez que os convites foram definidos bastante antes do dia do casamento foi necessário criar algo versátil o suficiente para que depois a decoração e o restante estacionário se pudesse enquadrar, mas sem perder carisma e personalidade. A Alexandra de forma muito atenta e prestável captou as nossas ideias e transformou-as em algo único, intemporal e à nossa imagem, superando largamente todas as expectativas (que já eram elevadas!).
Foi tudo pensado ao pormenor, com um enorme profissionalismo, talento e dedicação. Recomendamos a pajarita sem qualquer hesitação e queremos muito voltar a encontra-la no futuro para novas celebrações.
Obrigada por ajudarem a tornar o nosso casamento num evento mágico.”
“Estacionário de casamento e sinestesia”, um texto escrito a quatro mãos com a imprescindível Susana Esteves Pinto.
Este artigo foi publicado posteriormente em versão conversa, a 11 de janeiro de 2022, no Simplesmente Branco, para o ler clique aqui.
Estacionário: A PAJARITA
Fotografias: The Story Tellers
Espaço: Aqueduto