POR A PAJARITA
Hoje fala-vos de um bem precioso – o papel.
Com tantas formas e receitas, o papel diferencia-se pela função para o qual foi pensado e, desde sempre, temos contacto com ele.
Foi nele que fizemos os nossos primeiros desenhos, tão perceptíveis para nós e tão abstractos para os outros, onde aprendemos a escrever e, para as meninas da minha geração, a dos desenrascados dos anos 80, a primeira colecção. Lembram-se das “folhas queridas”, perfumadas e com diferentes ilustrações?
O papel acompanha-nos ao longo da vida e é um suporte muito especial. Para os amantes deste fantástico suporte, como eu, este suporte é um todo apreciado, na sua gramagem, no seu toque, no seu tacto, seja de textura expressiva ou com a suavidade da caxemira. É um genuíno despertador de sentidos!
Tipos de papéis
O papel mais corrente é composto por celulose ou polpa de madeira de árvores, principalmente pinheiros. É a matéria-prima mais económica, e, por isso, a mais comum.
No entanto, este tipo de papel tem determinadas limitações para algumas técnicas. A sua pouca flexibilidade pode condicionar resultados mais específicos que queiramos obter.
Quando saímos do âmbito do papel corrente, existem diferentes tipos de papéis, uns mais decorativos onde se incorporam fibras têxteis, folhas ou sementes, outros mais específicos cujas receitas têm como fim captar o melhor resultado de cada técnica que incorporam outras fibras naturais como o algodão, o linho ou o cânhamo.
Não é segredo que os meus papéis favoritos são os de algodão! E não é por capricho ou devaneio: na verdade, a minha formação em gravura levou-me a testar muitos papéis e os mais expressivos e adequados para esta técnica são também mais flexíveis.
São os que não se contorcem quando são molhados, os que não partem ao serem pressionados com relevo, os que, quando rasgados, libertam as suas fibras deixando rebarbas perfeitas.
Como se conhece um papel
Claro que numa era tão digital, o uso do papel foi ficando para trás, e deixou de ser habitual as pessoas sentirem o seu verdadeiro toque e o (re)conhecerem. Deixámos de nos escrever, as palavras vivem agora presas num ecrã mal iluminado e o poder do toque e o valor talismânico do objecto resistem ainda na teimosia de alguns.
Para conhecer um papel, não basta olhá-lo. Na verdade, um papel composto por 100% celulose pode ter a mesma textura de um com 50% ou mesmo 100% de algodão.
A textura tem a ver com o suporte onde ele é espremido ou seco, e nada diz da sua qualidade ou composição. Visível ao olho, este é um erro recorrente na comparação, no entanto, o toque não engana, e o rápido teste de flexibilidade ou, em caso de dúvida persistente, a leitura da ficha técnica irão esclarecer-nos de forma clara.
Muitos noivos e ainda mais profissionais me colocam questões sobre o papel, quando constatam que determinados exemplos ou resultados que viram não reagem como esperado. Estas surpresas partem do facto do papel escolhido não ser adequado à técnica aplicada. Isto porque na hora de comprar, não se leu a composição do mesmo, e a compra foi feita em termos comparativos pela textura e, possivelmente, preço.
O algodão não engana
A aparência ilude, o preço nem por isso. Esta curta frase pode ser aplicada em muitos contextos e também se aplica ao papel. Este para ter fibra vegetal da melhor qualidade, como um de 100% de algodão muito usado na gravura, não precisa de ter uma textura imponente, pode ser um papel extremamente liso com um toque sedoso que lembra a caxemira. Terá sempre qualquer coisa de orgânico, natural, quase como se de uma criatura viva se tratasse.
Quando forem comprar um papel bem bonito, pensem como o vão usar e leiam a ficha técnica ou peçam ajuda ao vendedor. O sentido em que se corta ou dobra são importantes e têm resultados diferentes, a espessura pode ser mais ou menos adequada, a própria capacidade de absorção e cobertura exprimirão emoções diferentes.
Existe um papel para cada ocasião, um que vos dará o melhor resultado e a qualidade tem o seu equivalente no custo.
E se falamos de papéis bonitos, deixo-vos as fotos de um estacionário muito simples onde o ele é rei, com uma textura muito singular, um toque de caxemira, composto por algodão que se desfia ao puxar.
Que pena não o sentirem…
Um texto escrito a quatro mãos: Alexandra Barbosa e a imprescindível Susana Esteves Pinto.