Hoje vou falar-vos de custo e valor.
Perguntam-me muitas vezes se faço promoções ou algum tipo de desconto devido ao contexto que estamos a viver, tal como me perguntaram quando atravessámos a mais recente crise económica – a época em que nasceu A PAJARITA.
É um facto, as promoções estão por todo o lado, basta fazermos um scroll pelas nossas redes sociais ou sairmos à rua para vermos inúmeros convites ao consumo por preços mais baratos. Sendo uma estratégia utilizada por diversas marcas, não é a minha. A minha argumentação é clara e factual, com razões sólidas baseadas nas premissas com que criei A PAJARITA: honestidade, sustentabilidade, qualidade, exigência e criatividade.
Explico-vos com mais detalhe: o estacionário de casamento, como eu o faço, não é um produto em série. Cada estacionário é desenhado para um determinado casal e todo o serviço e produtos criados são feitos à medida, de forma exclusiva e por encomenda.
Por essa razão, cada projecto tem um valor e não uma tabela.
O valor total que é apresentado a cada casal, tem como base o tempo estipulado para o processo criativo, a materialização da ideia, as alterações necessárias, os materiais seleccionados, o tempo alocado à realização dos exemplares solicitados e a entrega, quando a mesma não é feita em mãos.
Quem estabelece o valor do meu trabalho sou eu. Tudo é feito dentro de portas, no meu atelier, sem mãos ou meios externos e adicionais.
Trabalho apenas com uma gama de papéis escolhidos a dedo, porque são aqueles que fazem sentido à minha expressão, só imprimo em modo fine art porque a impressão de gráfica não reproduz as subtilezas que eu quero que vocês vejam, pinto com aguarelas profissionais, e não com guaches ou outros pigmentos com menos qualidade, porque a forma como a tinta reage a cada gesto é incomparável. A minha matéria-prima é de primeira qualidade, tal como o meu trabalho criativo, e estes dois factores somam um custo que se reflecte no valor final.
Acredito que à primeira vista estas escolhas possam não ser claras, ou que depois de entendidas, não sejam relevantes para quem está a comprar.
Acredito, no entanto, que o meu trabalho encontra o seu cliente certo, que é aquele que aprecia esta componente qualitativa e mais artística, que a procura e que a distingue.
Ora, como fica claro, abdicar da qualidade da matéria-prima que uso está fora de questão. Mesmo que um papel de composição sintética tenha a mesma textura de um de composição natural, para mim – e para os seus apreciadores – o seu toque não engana e o resultado final ficará sempre aquém das expectativas e, sobretudo, do seu potencial.
Não abdicando da qualidade dos materiais, e não encolhendo o tempo que dedico a cada projecto, que posso fazer para descer o preço em tempo de crise, em tempos atípicos ou mesmo de pouco trabalho?
Os custos fixos e operacionais inerentes ao meu negócio – a electricidade, internet, a contabilidade, a segurança social, a renda do atelier, os impostos, etc. – mantém-se inalterados e constantes, portanto também não podem ser contemplados numa redução de preço final.
O que sobra então para cortar?
Devo ponderar o meu valor novamente e ajustá-lo ao momento vivido, aumentando quando há muita procura e descendo quando há menos trabalho?
Não me parece correto porque esta escolha vai beneficiar uns casais e penalizar outros, fazendo com que uns paguem mais por algo que tem um valor intrínseco idêntico.
Há muita gente que aprecia a ideia de comprar algo nos saldos, com descontos e descidas de preços, no entanto, para um produto que é feito por encomenda, que não gera stock e não precisa por isso de ser liquidado para libertar espaço para a remessa da nova estação, não há justificação para uma descida de preço.
Se eu fizer isso, é porque antes cobrei a mais, logo, fui injusta com muitos.
Na minha prática, acredito num valor justo e equilibrado, que reflecte a qualidade das ideias, da matéria-prima e do resultado, e essas características são permanentes e imunes às flutuações das circunstâncias.
No entanto, em tempos atípicos, de crise seja ela financeira à nível mundial ou apenas no seio do casal que está a planear o seu casamento, a empatia é o valor mais importante.
É possível ajudar ou amparar, sem colocar em causa a nossa credibilidade, autenticidade ou ética.
Ao conversarmos, poderei propor uma forma de pagamento mais facilitada, sugerir ideias ou opções às escolhas inicialmente pensadas sem comprometer o conceito inicial, enviar o convite já desenhado, em formato digital com a nova data, não cobrar taxas adicionais por alterações de data, não alterar orçamentos em caso de adiamento, desde que os mesmos não sofram alterações no preço da matéria-prima, ou só cobrar o trabalho realizado em caso de cancelamento.
Sugerirei sempre a melhor opção de poupança para um resultado final que cumpra sonhos e expectativas, para mim, como artista e criadora, e para vocês, como noivos e clientes, e é neste diálogo que encontraremos o caminho para o mais bonito dos dias.
Esta é a forma de estar e visão de A PAJARITA: não vos posso ajudar a pagar o estacionário que escolheram, mas posso acrescentar valor e apoio ao serviço que vos presto, neste momento difícil e estranho que todos estamos, colectivamente, a atravessar.
Um texto escrito com a imprescindível ajuda de Susana Esteves Pinto e fotografias de Hugo Esteves Photography.