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XILOGRAVURA, O MEU VOCABULÁRIO

Hoje quero mostrar-vos o modo de expressão que mais me fascina: a xilogravura.

Sempre que penso nesta técnica, desenha-se de imediato  uma linha imaginária que parte da cabeça, passa pelo coração e, na minha mão, encontra a sua liberdade.

Esta técnica é uma expansão de mim própria, o meu alfabeto de expressão, e com ele nasceu uma nova Alexandra, um novo eu, como sempre gostei de afirmar.

 

O início

Para vos explicar este apego, tenho de recuar vários anos, até ao início da faculdade.
Num dos primeiros dias de aulas, percorria um longo corredor para chegar à saída e, antes de a encontrar, deparei-me com uma sala que tinha escrito na porta Gravura, e o odor que transpirava pelas frinchas, certamente pouco saudável, era também inebriante.
Sem saber bem o que tudo isto era, apenas com uma ideia vaga e reduzida, decidi abrir a porta timidamente. Era um frenesim, parecia a minha mente, aquela sala inquieta e vibrante chamava por mim.

A professora abordou-me e, sem jeito, disse-lhe que tinha entrado por curiosidade. Em vez de me mandar embora, convidou-me a assistir e rapidamente percebi que de curiosidade passaria a necessidade!

Aprendi rapidamente que as técnicas eram muitas e que afinal não era apenas uma sala, eram duas, uma para serigrafia e outra para calcogravura, xilogravura e litografia.

 

Como não existiam já vagas para a sua frequência como cadeira opcional, assisti como convidada no primeiro ano e, nos anos seguintes e até ao quinto ano, nunca deixei aquelas salas.

Experimentei um pouco de tudo, a minha sede de conhecimento nunca esteve tão apurada, mas assumo que me foquei na serigrafia, e contrariando sempre a sua função de reprodução, usei esta técnica como expressão e experimentação.

 

Passaram-se cinco anos e o regresso já se antecipava. Para celebrar esta despedida, decidi realizar um workshop com um Professor da Universidad P. de Valência, que me falou da Fundación CIEC, que descreveu como um bom sítio para mim.

Naquele momento nem sabia do que falava, mas ao fazer uma breve pesquisa, percebi que organizava o “Master de Obra Grafica”. Para quem quer explorar a gravura como expressão, é aqui que vai encontrar um ano de formação dedicado exclusivamente a este tema, com quatro módulos e técnicas onde tudo se desvenda e aborda.

Neste momento saiu-me um sorriso misturado com um suspiro, eu queria tanto regressar mas de repente estava a trocar esse retorno a casa por uma estadia igualmente longe, por mais uma temporada. Em vez de vir de férias, inscrevi-me como aluna externa e decidi continuar a praticar, agora fora da alçada escolar.

Para entrar no tão pretendido Master e concorrer a uma bolsa, precisava de um excelente portfólio, porque a qualidade do mesmo era um factor de decisão e aprovação.
E recebi a notícia, um email em castelhano afirmando tinha sido admitida no Master e que as aulas começariam no início do ano.

Até lá, competia-me fazer o melhor que sabia, o que gostava e o que sentia, e, sem menos importância, aprender castelhano fluentemente!

 

O tempo passou a correr, em Janeiro mudei-me para Betanzos, na Coruña, e toda a minha vida começou a mudar. Descobri que nada sabia e que tudo queria, conheci os mais prestigiados professores e artistas do mundo da gravura e, no fim desse ano, estava na maior exposição de gravura, ESTAMPA, em Madrid.

Ganhei um dos lugares a concurso, fui considerada uma das Tentaciones – espaço para artistas que prometem marcar o panorama internacional da gravura.

Regressei para finalizar o Master e segui para Valência, tinha entrado no Master em Producción Artística e também esta mudança se tinha feito por aconselhamento de um professor da universidade, que viria a ser meu tutor.

Nada voltou a ser igual, os estudos eram conciliados com presenças em exposições, bienais, prêmios. Quando finalizei em Valência, comecei a dar aulas de gravura na Fundación CIEC e também na Universidad de Altea. A minha vida  nómada de país em país era tão intensa que, ao fim de cinco anos, precisei de regressar, voltar a pensar e sonhar literalmente em português, sentir o abraço dos meus e dormir no ninho seguro, sem, no entanto, abandonar a xilogravura.

 

xilogravura

 

A xilogravura

A xilogravura é um procedimento de gravura em relevo sobre madeira e a impressão produzida por este meio. Consiste numa técnica de reprodução de imagem, onde o desenho é gravado numa matriz (nome que se dá à placa que gravamos) por meio de goivas, facas ou buris, permanecendo à superfície as zonas que vão receber a tinta.

De origem chinesa, sendo conhecida desde o século V, a xilogravura foi a primeira técnica a ser usada na Europa, a partir do século XIV, e o seu desenvolvimento está intimamente ligado à imprensa inventada por Gutenberg. Na sua vertente artística, o grande pioneiro foi Albrecht Dürer, elevando a técnica a uma delicadeza incomparável.

O seu famoso e magnífico Rinoceronte, de 1515, foi baseado na descrição escrita e esboço anónimo de um viajante aportado em Lisboa nesse mesmo ano e é uma das imagens mais icónicas de sempre.

 

Dürer's_Rhinoceros,_1515

 

O processo

Esta técnica implica um processo depurado. Os ingredientes são uma chapa de madeira, goivas ou buris, um desenho esboçado ou pensado, e o acto consiste em projectar, com força e delicadeza, a expressão da alma.

Há um combate constante contra a fibra da madeira como se de um duelo se tratasse ou uma conversa fluida, seguindo a sua orientação ao sabor de cada fibra.
Cada linha é uma conquista e, por isso, se a experimentarem, vão sentir progressivamente a adrenalina a invadir-vos, a alimentar-vos!

a-matriz

A matriz, a madeira que vão talhar, deve ser dura para os cortes serem limpos. As madeiras mais aconselhadas são as de árvores de fruto, e o segredo de uma boa estampagem é validado com a total nitidez de cada fibra da madeira, sentindo-a com um leve passar dos nossos dedos.

o-processo

Esta técnica tem como objectivo a reprodução de múltiplos, como todas as técnicas de gravura. No entanto, nunca me fascinou essa sua primeira função e desígnio.
Fazer edições nunca foi algo que fizesse parte da minha assinatura artística, com excepções para encomendas para clientes específicos ou instituições, como a Coca-cola, Centro Português de Serigrafia ou a banca.

Minha devoção a esta técnica prende-se muito mais ao seu processo criativo, para mim a impressão é tão importante quanto o acto de projectá-la. A matriz não é uma mera imagem, mas o elemento que a gera. A xilogravura é a libertação, a exteriorização do meu interior, não implica repetições mas constantes mutações e expressões.

 

Se ainda restam dúvidas sobre o processo, este vídeo vai-vos mostrar na perfeição o processo criativo, da matriz à impressão, as suas ferramentas e expressão que daí resulta.

 

 

A xilogravura no casamento

Em 2020 decidi trazer esta técnica que me é tão querida para o portefólio d’A PAJARITA e incluí-la no meu processo criativo e oferta de serviços, com as suas subtilezas e expressividade.

É um novo meio para explorar no estacionário de casamento, seja no convite ou no envelope, de forma singular ou combinada, com ou sem cor, sempre surpreendente e única.
Cada matriz é criada em exclusividade para cada Cliente. Seja a impressão ou a matriz, será apenas vossa e ambas podem ser contempladas como um todo ou na sua individualidade. Já pensaram que a matriz pode transformar-se num bonito quadro?

 

convites-em-xilogravura

estacionario-em-xilogravura

 

Espero que a minha paixão e fascínio por esta arte milenar e tão expressiva seja contagiante e se sintam tentados a conhecer com mais detalhe e a experimentar: os resultados serão mágicos!

 

XILOGRAVURA, O MEU VOCABULÁRIO, um texto escrito a quatro mãos com a imprescindível Susana Esteves Pinto.

 

 

Ficha técnica:

Video: Vanessa & Ivo

Fotografias (por ordem de apresentação): Vanessa & Ivo, a pajarita e Lovati.

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